O mistério sagrado do capital
O escritor inglês, Julian Gough, lembra Max Weber para dizer que “os primeiros protestantes viam o sucesso econômico como um sinal de Deus de que alguém era celestialmente eleito. Foi um pequeno passo passar disso a buscar o sucesso para assegurar a salvação”. Gough também lembra Walter Benjamin: “O capitalismo pegou discretamente a Reforma Protestante e substituiu a religião por si mesmo: ele se tornou uma religião, a religião ocidental”.
Segundo Gough, tanto as altas finanças modernas quanto o cristianismo moderno usam a linguagem e instrumentos da ciência para fins que são religiosos, não científicos. “Ambos atendem uma necessidade, um anseio que as antigas formas de religião e capitalismo não mais atendem. A necessidade de um poder misterioso maior do que nós, no qual possamos acreditar. Ele precisa ser poderoso - mas também deve ser misterioso. E o mistério vem desaparecendo do mundo cada vez mais rápido, desde Galileu”.
Para o autor de Juno and June, “nós sabemos do que são feitas as estrelas e podemos computar seu curso pelos céus pelos próximos 10 mil anos. Nós podemos explicar as tempestades e inundações que antes eram evidência da ira de Deus. Mas à medida que o avanço da ciência removeu o mistério divino de grande parte da vida, o avanço do capitalismo de livre mercado o devolveu. Apenas a economia moderna pode atualmente fornecer forças que não entendemos. E precisamos disso em nossas vidas”.
Leia o texto completo de Gough postado pelo jornalista
Olímpio Cruz Neto
Queria a Lua
Há certa complementaridade da matéria de Julien Gough, em Prospect de julho, com o excelente texto do jornalista Clóvis Rossi da Folha de S. Paulo desta quinta-feira, 03/07. Provavelmente convalescendo de recente e fastidiosa demência política que recém lhe acometeu, Rossi lembra Pietro Ingrao, comunista italiano de 93 anos: "Na minha terra, nas grandes noites estreladas de verão e primavera, dá a impressão de que se pode pegar a Lua, quando sai entre as montanhas. Quando pequeno, queria pegá-la”.
Segundo Rossi, o menino Ingrao pedia ao pai, como prêmio por fazer pipi antes de dormir, olhando pela janela na direção do vale e das montanhas e vendo a Lua brilhando: “Quero a Lua". Para Ingrao, a Lua simbolizava algo muito bonito que não se consegue agarrar. Ingrao cresceu e escolheu uma nova Lua para perseguir: o comunismo como "símbolo de algo muito bonito". Para Rossi, pode-se até não concordar com a escolha que fez o comunista, “mas não dá para negar que o mundo moderno tornou-se esquivo demais à busca da Lua, qualquer Lua”.
Rossi supõe, com razão, que há muita gente que tem lá suas "luas" individuais ou coletivas. E cita a seleção de futebol da Espanha que acaba de ganhar a Eurocopa, após 44 anos, assumindo um slogan mercadológico de “nada é impossível”. O atento jornalista se refere ao mundo político, onde já não se vê ninguém querendo agarrar a Lua. E completa: “Na melhor das hipóteses, administram o possível, nada mais. Talvez, se quisessem a Lua, iriam algo além do possível. Talvez”.