O CB abre a reportagem com o subtítulo “Empresa de celulose represa e inverte curso de rios, seca nascentes e destrói mata nativa para plantar eucalipto no Espírito Santo e na Bahia, com a conivência do poder público”. A matéria de Lúcio Vaz, enviada de Aracruz (ES), revela as entranhas da construção do império empresarial que fez da Aracruz Celulose a maior produtora mundial de celulose de eucalipto. Vaz mostra a ligação da empresa, desde os anos 60, com o mundo político, a quem doou cerca de R$ 6,5 milhões só nas últimas eleições. E exibe o efeito devastador da Aracruz sobre o que ali resta da Mata Atlântica, sobre os rios e sobre as terras de índios e quilombolas.
O trabalho de Vaz amplia o que já se sabe da ação da Aracruz e outras no Rio Grande do Sul. Ali, a expansão das plantações de eucalipto e a implantação de novas fábricas de celulose vêm produzindo extensas áreas desertificadas. Hoje, a empresa mantém 203 mil hectares de plantio no Espírito Santo e na Bahia, onde se apropria de recursos hídricos, causando fortes danos ambientais. Estudo da Associação de Geógrafos do Espírito Santo revela que a quantidade de água consumida por dia pela Aracruz da Barra do Riacho, no processamento e branqueamento da celulose, ronda os 250 mil metros cúbicos, o que equivale ao consumo diário de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes.
E o que se vê? Destruição de matas nativas, assoreamento dos cursos d’água, contaminação das águas por produtos químicos e por despejos sem tratamento (pelos povoamentos desordenados), represamento de águas, obstrução dos leitos por estradas de transporte de eucalipto, eliminação da vida. E nada disso é novo, desde a denúncia inicial do biólogo Augusto Ruschi em 1971, renovada anos a fio, por entidades de defesa do meio ambiente, publicações especializadas e diversos movimentos sociais. Desgraçadamente, não há nenhuma repercussão institucional ou midiática de peso. As barreiras, parece, estão nos financiamentos de campanha e nas verbas publicitárias.