sábado, 14 de junho de 2008

Corra, Lula, Corra

O filme alemão, de 1998, Corra, Lola, Corra, (Lola Rennt), dirigido pelo competente Tom Tykwer e protagonizado pela belíssima Franka Potente, encerra uma lição de vida de múltiplas facetas filosóficas, sendo, ao mesmo tempo, denso em ação e suspense. Quem não o viu, perdeu a oportunidade de curti-lo na telona. Resta o consolo de vê-lo no sofá de casa, em tela miúda, correndo o risco de ampliar aquele pneu que ronda a cintura. Leia mais sobre o filme. [1] e [2]

É como a corrida que se estabeleceu de uns tempos pra cá para fazer o Brasil se encontrar consigo mesmo. Nessa corrida, diferentes tropeços, a la Lola, iniciam com uma colossal dívida social acumulada em centenas de anos de hegemonia econômica exercida por uma oligarquia perversa, concentradora de riquezas. São gigantescas as desigualdades entre o topo e a base da pirâmide social. Nas últimas décadas, cada vez mais se “gastou” menos com as políticas públicas que possam imprimir algum padrão de dignidade ou que busque resgatar o poder de vida de milhões.

Os ventos neoliberais que o grande capital transnacional concebeu na década de 90, docilmente acolhidos por Carlos Menem, Alberto Fujimori e Fernando Henrique na América Latina, trouxeram a cultura de irresponsáveis privatizações e novos conceitos de liberdade de mercado que viriam a garantir o livre caminho à sanha concentradora das riquezas. Investir em políticas de interesse social passou a ser visto como “gastos do governo”. Até uma contribuição sobre movimentação financeira, como a CPMF, para “gastar” na saúde pública foi surrupiada para finalidades duvidosas.

Aliás, um efeito colateral do “imposto do cheque” revelava numerosas fortunas em mãos de pessoas que não costumavam pagar Imposto de Renda. Daí, a alegria dos defensores do “livre mercado”, na verdade a máfia da sonegação, ao sepultar um instrumento tanto fiscalizador quanto solidário e democrático. Com a CPMF, o brasileiro médio pagava, anualmente, menos que o preço de uma pizza para melhorar o padrão de vida dos menos favorecidos. Com um quarto desse valor, nova proposta está em discussão no Congresso Nacional. E tem o endereço certo para a Saúde, que lhe confere alto valor social.
[3]

Por seu turno, os “gastos do governo”, do atual governo, têm ido às raias do “nunca na história deste país”. Nenhuma alíquota a mais de tributo foi criada e ainda foram desoneradas de impostos produtos de cesta básica de alimentos, material escolar e de construção, além de produtos de informática. Já está consagrado mundialmente o enorme benefício social do programa Bolsa Família e o financiamento popular que tem mudado o perfil aquisitivo da população, com algumas dezenas de milhões de brasileiros migrando para faixas de consumo que lhes permite maior dignidade.

Mas, a corrida frenética de Lola em busca dos cem mil marcos que poderão salvar a vida do seu amado, é repetida uma, duas, três vezes. Entre nós, pode ser três mil vezes.Não basta o insuspeito Le Monde indicar aos Estados Unidos o remédio brasileiro que lhes poderá salvar da bancarrota. Não basta exibirmos com orgulho os índices progressivos e sustentáveis da condição da nossa produção a apontar melhor qualidade de vida aos brasileiros. Como nos tropeços de Lola, esbarramos sempre nos profetas do apocalipse de plantão, a prever dias piores, “se o governo não parar de gastar”.
[4] e [5]

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Cumplicidade contra avida

“Nos últimos 40 anos, a Aracuz construiu um império no Espírito Santo. Nesse período desmatou florestas, ocupou áreas indígenas, represou rios e chegou a inverter o curso de um outro para abastecer uma de suas fábricas. Tudo com a conivência do poder público. A empresa sempre manteve fortes ligações com políticos. Somente nas três últimas eleições, doou R$ 6,5 milhões a candidatos do estado”. Este texto subscreve uma grande foto colorida de um flagrante de devastação florestal, na capa do Correio Braziliense de 1/06/2008. Encerra o texto uma chamada para a reportagem que ocupa as três páginas seguintes, com o sugestivo título de “Feridas abertas na floresta”. [1]

O CB abre a reportagem com o subtítulo “Empresa de celulose represa e inverte curso de rios, seca nascentes e destrói mata nativa para plantar eucalipto no Espírito Santo e na Bahia, com a conivência do poder público”. A matéria de Lúcio Vaz, enviada de Aracruz (ES), revela as entranhas da construção do império empresarial que fez da Aracruz Celulose a maior produtora mundial de celulose de eucalipto. Vaz mostra a ligação da empresa, desde os anos 60, com o mundo político, a quem doou cerca de R$ 6,5 milhões só nas últimas eleições. E exibe o efeito devastador da Aracruz sobre o que ali resta da Mata Atlântica, sobre os rios e sobre as terras de índios e quilombolas.

O trabalho de Vaz amplia o que já se sabe da ação da Aracruz e outras no Rio Grande do Sul. Ali, a expansão das plantações de eucalipto e a implantação de novas fábricas de celulose vêm produzindo extensas áreas desertificadas. Hoje, a empresa mantém 203 mil hectares de plantio no Espírito Santo e na Bahia, onde se apropria de recursos hídricos, causando fortes danos ambientais. Estudo da Associação de Geógrafos do Espírito Santo revela que a quantidade de água consumida por dia pela Aracruz da Barra do Riacho, no processamento e branqueamento da celulose, ronda os 250 mil metros cúbicos, o que equivale ao consumo diário de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes.

E o que se vê? Destruição de matas nativas, assoreamento dos cursos d’água, contaminação das águas por produtos químicos e por despejos sem tratamento (pelos povoamentos desordenados), represamento de águas, obstrução dos leitos por estradas de transporte de eucalipto, eliminação da vida. E nada disso é novo, desde a denúncia inicial do biólogo Augusto Ruschi em 1971, renovada anos a fio, por entidades de defesa do meio ambiente, publicações especializadas e diversos movimentos sociais. Desgraçadamente, não há nenhuma repercussão institucional ou midiática de peso. As barreiras, parece, estão nos financiamentos de campanha e nas verbas publicitárias.

domingo, 1 de junho de 2008

A segurança do script

Mirian Leitão em três momentos: os dois primeiros, com script; o terceiro, um desastre. Interferência psico-ideológica? (clique em pausa e aguarde alguns segundos para carregar)